"Debate" político e outras discussões de comadres



Analfabetismo científico é outra coisa triste que existe no Brasil. Com 95% da população formada por analfabetos científicos é fácil empurrar ideologias toscas de toda sorte (até chamar discussão de comadres de "debate" e todo mundo acreditar). 

E "debate" de TV não pode ficar atrás. O analfabetismo científico levou jornaleiros a inventarem a discussão de comadres e achar que é debate. Debate político, religioso, esportivo são algumas das discussões de comadres inventadas pelos jornaleiros e reconhecidas pelo populacho ignorante como se fosse algo científico e confiável. Sim, são jornaleiros. Jornalista sou eu (e uns raríssimos) que embasa conclusões no método científico.

Mas o que é um debate? 

Debate é uma coisa séria, confiável, científica. Afirmou tem que provar porque a quem alega cabe o ônus da prova. Não se pode provar uma inexistência. A ausência de evidencia já é  aprova da inexistência. O alegante de mentiras (mentiroso ou falacioso) é obrigado a se retratar publicamente e a discussão sai da pauta porque perde a validade. As provas apresentadas pelos alegantes devem ser revisadas antecipadamente por uma revisão de pares independente (que não sabe de quem são as provas).

O que vemos nesses "debates" políticos de TV é um alto grau de analfabetismo científico, não somente dos participantes, mas principalmente dos organizadores. Se bem que os participantes ficam amarrados ao regulamento elaborado por jornaleiros analfabetos. Mesmo que algum participante não seja analfabeto científico não vai poder mudar o regulamento. 

Mas como seria um debate político?

Cada candidato apresenta os quesitos a serem utilizados no debate de verdade (todo ambiente científico é controlado). Os organizadores enviam para a revisão de pares independente as provas do que eles querem que seja provado (do que vão afirmar ou do que vão se defender). As provas não contêm os nomes dos autores, mas apenas números de identificação (conhecidos pelos autores). Durante o debate as provas são chamadas pelos autores pelos respectivos números de identificação. As respostas ou afirmativas devem ser corroboradas ou validadas pela revisão de pares com base nas provas analisadas. Caso alguma afirmação seja reprovada pelos revisores, o afirmante é obrigado a se retratar e o assunto é retirado da pauta, exceto, se for provado por outro candidato. Como as provas são revisadas previamente, os revisores apenas vão validada ou reprovar o argumento no momento do debate. Argumento sem prova é falácia, desonestidade intelectual, mau-caratismo e mentira. Por isso, três falácias excluem o candidato do debate. Fora desse método não há debate, mas apenas embate entre os candidatos. 

Nesse engodo, dizer que o candidato fulano foi melhor que beltrano, ou indagar sobre quem ganhou o "debate" é a falácia da falácia. É ridículo avaliar os candidatos porque disseram o que os jornaleiros avaliadores queriam ouvir, sem a preocupação com a verdade das alegações ou possibilidade de cumprimento. Interessante que nesses "debates", em vez de ser obrigatório, apresentar provas é proibido😧. Não pode apresentar nenhum documento comprovando as alegações. Se isso não é prova de analfabetismo científico, o que seria então? É cientificamente aviltante ver "especialistas" ou mesmo "doutores" em ciências sociais ideologia social ou em ciências políticas ideologia política publicando resultados das "análises" do "debate" como se isso fosse algo sério e confiável. Pior, com conclusões totalmente equivocadas sobre as causas que levam os eleitores polarizados a definirem os seus votos. Nenhum eleitor polarizado consegue votar no candidato oposto a sua polarização. E isso ocorre porque a polarização política é na verdade ideológica, com agravante de fundamentação em valores e princípios. É como fazer um cristão cuspir na cara de Jesus. "Doutores" que possuem conhecimento, mas não têm um pingo de sabedoria. 

Chamar essa discussão de comadres de debate é um insulto a inteligência dos alfabetizados cientificamente. Dizer que um debatedor mentiu em um debate é ridículo e só prova que não foi um debate. Mais um legado de décadas de substituição do ensino de ciências nas escolas por ideologias toscas. 

Nous sommes scientific illiterates”.


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