Enigma III: Maê-Maê - A origem dos deuses



Era uma tarde linda e quente de verão, com sol forte e céu azul. Uma brisa forte soprava nas folhas das árvores, produzindo um agradável farfalhar natural. Um menino corria em um túnel formados por vegetação de densas folhagens e pisando em chão de grama farta e macia. O que poderia acontecer?

Arthur vivia em uma fazenda numa cidade do NE pernambucano com sua mãe, seus dois irmãos (um mais novo e outro mais velho), seus pais e alguns empregados. Tendo pais ateus, não era permitido falar em Deus ou coisa que o valha. -"Deus não existe e morreu acabou" (repetiam constantemente). 

Era uma fazenda pequena. A parte frontal da propriedade dava para uma estrada de terra local. Na verdade, um acesso entre duas propriedades (a do pai de Arthur e outra), delimitada pelas duas cercas de troncos fincados no solo com arame farpado. A parte de trás dava para um rio, cuja mata ciliar era formada por uma barreira de bambus, que impedia a visão do rio de quem estava na casa. As laterais da propriedade davam para outras propriedades, sendo do lado esquerdo limitada por cerca de troncos fincados com arame farpado, e do lado direito delimitado por uma mata densa, sem cercas. A casa era grande, formada por terraço de varanda em L, sala de visitas, sala de refeições, biblioteca/escritório, cozinha e cinco quartos. Era uma casa típica de fazenda, com grandes portas e janelas de madeira maciça envernizadas. Construída em alvenaria, coberta em telhas inglesas duas águas apoiadas sobre estrutura de madeira de lei e piso em cerâmica rústica portuguesa. O local era bem ventilado e iluminado. O terraço possuía colunas metálica em Art Nouveau que sustentavam treliças fixadoras da madeira da coberta em uma água. A fazenda possuía a apicultura e a ovinocultura como carro chefe da economia, mas também havia plantação de verduras, batatas e criação de porcos e galinhas.

Na parte de trás da casa, próximo a estribaria, havia um pé de jaca muito grande. Em um dos galhos mais baixos, que era robusto e horizontal, foi instalado um enorme e gostoso balanço. Todos gostavam de se balançar nele, inclusive os adultos. Dava para voar nesse balanço, tão longas eram as robustas cordas que sustentavam o assento. Mas também havia uma brincadeira de enrolar ao máximo as cordas com alguém sentado e depois soltar para que a pessoa ficasse girando sem parar. Um dia, as tias do Arthur colocou ele no balanço e em vez de empurrar começaram a girar ele no assento. Ao atingir o limite da urdidura da corda, mandaram ele segurar firme e o soltaram. Arthur girava que nem uma carrapeta. Nos momentos que estava girando, que pareceram uma eternidade, Arthur viu o vulto de uma criança que brilhava como uma lâmpada fluorescente acessa. O vulto aparecia e desaparecia da vista dele. Uma voz ecoava como em um sonho "Arthuuuur..., Arthuuuur". De repente, tudo pareceu parar. Apesar de estar girando muito rápido, Athur tinha a impressão de que estava parado em relação a outra criança. Tudo parecia em câmara lenta. A criança sorriu e falou com uma voz encantada, que estrondava, como se fosse em eco: -"Sou seu amigo, vou tirar você daí". Nesse momento o balanço parou, mesmo tendo praticamente a metade das cordas acima ainda enroladas. Arthur sai do balanço e não consegue ficar de pé. O mundo estava rodando e uma crise de vômico o acomete. O mal estar durou horas para acabar. Mesmo após alguns dias, Arthur ainda sentia o mundo rodar quando fazia movimentos bruscos com a cabeça.  

Certa noite Arthur teve um sonho em que aparecia a mesma criança iluminada, com um brilho intenso, como se fosse uma lâmpada acessa. Nesse sonho a criança falou para Arthur que em breve o visitaria para passar algumas orientações para ele. E que tivesse fé porque, ao contrário do que dizia seus pais, Deus existe.   

A entrada do túnel natural ficava na linha que delimitava a área desmatada e de floresta, escondida por trás de uma parede arbustos formada por espinheiros. Uma das brincadeiras de criança de sítios e fazendas é pegar pássaros com  laço de passarinheiro. Laço de passarinheiro é uma armadilha formada por uma haste (pecíolo) de folíolo (uma das filhas que forma a palma) retirada da folha (limbo) do coqueiro verde. Após retirar o folíolo da haste, faz-se um laço de aproximadamente 10 cm de abertura. A brincadeira é conseguir chegar o mais perto possível do passarinho e encaixar o laço no pescoço do mesmo. Depois é só puxar a haste que o laço se fecha e o pássaro fica preso. E Artur não era diferente. Aos 7 anos adorava brincar de passarinheiro. E foi numa dessas brincadeiras que Arthur descobriu o enigmático túnel da mata, cuja experiência mudou a sua vida para sempre. Artur perseguia um anu-preto, que sempre faz seu ninho em espinheiros. Ao afastar cuidadosamente com um graveto um dos galhos do perfurante arbusto, a criança visualiza um caminho entre a vegetação. Escondido pelas folhagens do espinheiro. De fora não seria possível perceber que por trás havia uma formação vegetal tão intrigante: um túnel formado por caules recobertos por ramos de densa folhagem, milimetricamente alinhados, paralelos e equidistantes. Os caules das árvores possuíam diâmetro de cerca de 2 a 3 cm, cada, alinhados perfeitamente com distanciamento de cerca de 10 cm ou do outro. Toda a vegetação era recoberta por ramos de densas folhagens. As árvores laterais enfileiradas entornavam seus galhos uns sobre os outros, como se tivessem se abraçando no topo, formando um túnel preciso de aproximadamente um metro de largura por dois de altura e dez a quinze metros de comprimento em linha reta. O menino escorou os galhos do espinheiro com gravetos, passou através do arbusto e entrou no túnel. Curioso, decidiu correr até o final para saber onde ia chegar. Ansioso pela curiosidade de saber onde ia chegar, o menino percorreu toda extensão do túnel. A cada passo que dava o local ficava cada vez mais escurecido pela densidade das folhagens e a grama do chão mais densa, fria e macia. A relva era do tipo que tem folhas grandes e bem verdes. Rápidos lampejos como se fossem corpos iluminados passavam na frente da criança em desabalada carreira.. Ao chegar ao final do túnel, ofegante, a criança percebeu que dava numa área circular formada pela mesma vegetação do túnel. O local estava escuro pela vegetação fechada, iluminado apenas por um facho de luz forte que vazava através de uma pequena abertura no teto de vegetais vivos. A abertura se encontrava exatamente no centro do teto circular. O facho de luz projetava-se sobre uma pedra em formato oval e muito branca, de aproximadamente uns 70 cm de diâmetro por 50 cm de altura. Como um pequeno altar de mármore, a pedra branca refletia intensamente o facho de luz que se projetava sobre a mesma, parecendo ter luz própria. Dava para ver o interior iluminado da pedra. Era um espaço totalmente fechado por vegetação, que dificultava a passagem da luz solar. As árvores delimitavam precisamente um círculo em torno de um tapete de grama verde, que acoplava ao final do túnel. O odor de grama verde era forte e uma atmosfera de paz pairava no enigmático ambiente. O menino parou na câmara circular e se sentou na densa e macia relva. Estava ofegante. De repente, ouviu seu nome ser chamado:

-Arthur!

 Uma voz agradável e melodiosa de criança o chamava. 

-Q...Quem é? Perguntou o menino.

-Sou Maê-Maê. Não tenha medo, sou seu amigo do sonho, vou proteger você. Respondeu a voz.

-Onde você está? Perguntou o menino.

-Estou na luz. Respondeu a voz.

O menino olhou para o facho de luz projetado sobre a pedra branca e ficou em estado de estase. Um sentimento de profunda paz, amor e segurança se apoderou de Arthur. Era uma silhueta de de luz em forma de criança flutuando no interior do facho de luz. A mesma imagem que viu no balanço e no estranho sonho que teve há alguns dias. Nesse momento, toda câmara fica iluminada, como se tivesse em campo aberto e com sol a pino. O ano era 1968. Não havia hologramas, laser ou qualquer outra tecnologia que pudesse reproduzir o tal fenômeno. O que era aquilo?

Arthur então perguntou:

-O que você quer?

Maê-Maê respondeu:

-Sou seu protetor. Quando você tiver triste, aflito ou em perigo, clame por mim e eu lhe ajudarei. Sempre se esforce para ser bom e justo e busque a sabedoria. Busque também a Deus em oração. Você será sábio e ninguém conseguirá superar a sua sabedoria. Mas busque também o conhecimento. Estude. Porque um completa o outro. E os dois unem o corpo e o espirito. A sabedoria vem do espirito, mas o conhecimento vem do corpo. Você será muito importante para esse mundo, amado por uns e odiado por outros. Mas cumprirá a sua missão. Nunca se desvie dela (falo da missão). Fará poucos amigos e muito inimigos. No tempo certo você saberá qual é a sua missão. Fique atento aos sinais. Este local será destruído ainda esta noite e não mais existirá para testemunhar o que você está testemunhado. Apenas você será testemunha. Por isso você não conseguirá contar o que viu e ouviu aqui para ninguém. Nem mesmo para os seus pais. Chamei você  aqui para lhe dizer essas coisas, mas agora preciso voltar para o meu mundo. Eu abençoo você, dou forças e sabedoria para que você tenha uma vida longa e feliz. Apesar das dificuldades que irá passar, você será feliz e viverá em paz. Amém! 

Nesse momento, como em um passe de mágica, o vulto desparece e o local volta a ficar escuro, apenas com o facho de luz ao centro iluminando a pedra. O sentimento de paz e segurança que havia arrebatado Arthur se foi e em seu lugar se abateu um certo pânico.

Com muito medo, Arthur se levanta e sai do local correndo apavorado. Ao chegar ao espinheiro, passa através da abertura a mil por hora e corre para casa. Tenta contar para o seu pai: "Eu vi um menino de luz parado no ar, todo iluminado", disse ele ao pai. Mas o pai fica rindo e não leva a sério. Então Arthur corre para contar para sua mãe e diz a mesma coisa. Mas a mãe também não leva à sério e mal escuta. Arthur conta para tia e, mesma coisa. Ninguém leva à sério a fantástica experiência da criança. Da cozinha, onde se encontrava, ouviu o pai dizer: "esse menino é maluco, tá bom de internar ele". Arthur vai para o quarto e passa o resto da tarde na cama. 

Ao anoitecer, quando estava à mesa tomando café, Arthur percebe uma movimentação na casa. São os empregados da fazenda correndo para apagar o fogo na mata. No dia seguinte, logo ao amanhecer, Arthur pula da cama e corre para local do fantástico acontecimento. A área estava totalmente destruída, restando apenas carvão e uns gravetos queimados. Mas ainda era possível visualizar a fileira de tocos que formava o túnel e a área circular. A pedra branca, agora escurecida pelas cinzas, continuava no mesmo lugar. 

Mas algo despertou na mente da criança. Nessa mesma noite, após a agonia do incêndio, Arthur e seu pai estavam sentados no banco do jardim da casa de fazenda. Era um banco de tiras de madeira presas a uma estrutura de ferro. O pai brincava com o cachorro, um pastor alemão, enquanto Arthur observava o céu estrelado recostado ao banco, com a nuca apoiada no topo do encosto. Daí Arthur pergunta:

-Pai, depois dessas estrelas, o que tem? 

O pai responde: -Tem mais estrelas, mais planetas, mais sóis...

Arthur questiona: -Sim, mas e depois e depois, quando acabar as estrelas, os planetas, tudo?

Novamente o pai responde: -Acho que só tem o espaço, vazio, mas nada.

Arthur, não satisfeito com a resposta, questiona novamente: -E depois do espaço vazio, o que tem?

O pai, já impaciente, responde: -Eu sei lá, acho que é espaço infinito, para sempre, em todas as direções, nunca acaba, é para sempre, espaço, espaço...

Arthur responde: -Isso é Deus. Uma coisa do mundo não pode ser infinita. Se é infinito, que a gente não consegue entender, é Deus.

A partir daquele momento o pai entendeu que algo mudou naquele garoto. Uma criança de sete anos perguntando sobre origem do universo, vidas em outros planetas, o que acontece se "esticar" ou "apertar" o espaço e se há algum caminho no espaço para chegar em outros planetas, certamente não é algo normal. 

Passados alguns meses e já no inverno, o rio estava caudaloso e as crianças brincavam de pular do barranco no rio. E Arthur estava no meio deles. Daí umas das crianças desafiou Arthur a pular do barranco numa área mais funda e de maior correnteza, mais ao centro do rio. Arthur aceita o desafio e pula no local designado. É arrastado pela correnteza e começa a se afogar. As crianças ficam em pânico, correndo e gritando ao longo da margem do rio. Daí Arthur grita -"Maê-Maê, glub, glub, por favor, glub, glub, me ajudglub, glub, glub". Nesse momento, três troncos de bambus verdes existentes nas margens caíram sobre o rio, exatamente onde Arthur estava. Como os troncos permaneceram presos as suas raízes em solo, Arthur pode se agarrar a eles e voltar para terra em segurança. E toda vez que Arthur clamava, seu amigo de luz o atendia. E muitos outros "milagres" aconteceram ao longo da sua vida de criança. 

Daí por diante Arthur sempre recorria a Maê-Maê todas vez que tinha algum problema. E seu amigo invisível sempre o atendia. Vez por outra, seu pais o viam conversando sozinho, como se tivesse alguém com ele. Certa vez uma tia viu uma goiaba sair da mão de Arthur, subir alguns centímetros, sair um pedaço e depois voltar novamente para a mão da criança. Questionado, Arthur falou que ofereceu um pedaço da goiaba a Maê-Maê e ele aceitou. Certa vez, quando passava sob as árvores próximo a jaqueira onde o balanço estava instalado, Arthur ouviu um barulho nas folhas secas sobre o solo, era uma cobra coral. Um réptil muito bonito, com suas listras coloridas em branco, vermelho e preto. A cobra vinha em direção ao menino. De repente, parou, levantou a cabeça e voltou para o mato. Outro dia, em meio a uma forte ventania, Arthur muito feliz, abriu os braços, inclinou o corpo para frente e pareceu se elevar do solo por alguns centímetros, como se estivesse voando. Novamente questionado, Arthur falou que Maê-Maê disse para ele não ter medo,  abrir os braços e cair para frente na ventania que poderia voar. Muitos outros fenômenos inexplicáveis e extraordinários aconteceram naquela fazenda.

Havia um trecho do rio que dava para um lajedo, onde as águas formavam uma pequena cachoeira. Esse trecho ficava rio abaixo, mais para o norte, após a mata ciliar de tabocas. Ao lado do lajedo havia um pé de ingá. Um fruto muito doce e desejado. Mas a árvore era muito alta e Arthur, após algumas tentativas, desistiu de subir. Então sentou-se em baixo da exuberante árvore e se lembrou de Maê-Maê. Nesse momento caiu em frente a Arthur um galho com algumas suculentas e carnudas vargens do ingazeiro. 

Foi um tempo de encantos, sonhos e esperanças. Um mundo paralelo vivido ou sonhado por uma criança que isolada em uma fazenda.   

Com a morte precoce do seu pai, a família precisou vender a fazenda e Arthur foi morar na cidade antes dos 12 anos. Ocupado com os à fazeres da vida e em função do aumento da sua racionalidade, Arthur aos poucos foi esquecendo Maê-Maê. Sua fé, agora voltada para o Deus do universo, conforme sua concepção, talvez não mais necessite de manifestações divinas extraordinárias.

Mesmo sem muitas condições, após a morte do seu pai, Arthur cresceu, se desenvolveu, virou empresário e conseguiu realizar praticamente todos os seus sonhos. Pelo menos os que buscou conseguiu. Apesar de estudar várias religiões, não conseguiu encontrar Deus em nenhuma religião ou livro sagrado. Mas o Deus do universo, único que se fez presente em sua vida, continua em sua mente...

Enigma I: O Ministério do Mal

Enigma II: A língua simíssima



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