Lula, o paulisssta do nordeste



Essa é a história de Lula, o paulisssta do nordeste.


Lula (Lucivaldo) estava entediado com a vida mansa da pacata cidade do interior de PE. Tinha uns primos que foram para São Paulo ("Sumpalo", como chamava sua mãe sem dentes) e se impressionou com as fotos que eles mandavam mostrando a boa vida que tinham. Lucivaldo era para ser "Valdo", mas como não pegava bem chamar seu irmão Merivaldo de "Méri", o apelidaram de "Valdo". Lula pegou um dinheiro que ganhou na olaria em que trabalhava, arrumou as malas e "foice". 


Na capital, um dos primos foi recebê-lo na rodoviária e conduzi-lo até a casa onde moravam. A ficha de Lula começou a cair quando chegou no local. Um quarto alugado de um vão dentro de uma favela. O banheiro era coletivo e ficava fora do quarto. Dentro do quarto, um fogão duas bocas, prateleiras e duas camas, onde dormiam os dois primos e suas esposas. Ele perguntou onde iria dormir. Responderam que no meio, entre as duas camas e que depois a coisa melhorava. O emprego já estava certo. O primo mais chegado, que foi buscá-lo na rodoviária, havia acertado uma vaga com o chefe para trabalhar carregando e descarregando caminhões em um armazém de estivas. Do quartinho para o trabalho eram duas conduções e precisavam acordar as quatro da matina. O Lula questionou a vida boa das fotos e eles disseram que não iam contar fracasso para "aquele povo invejoso". E recomendou ao Lula também que não dissesse nada sobre a vida dura que tinham para que as suas mães não sofressem. O objetivo dos primos era arranjar alguém para ajudar nas despesas e economizar. 

À noite, Lula era torturado. Ninguém havia pensado nesse detalhe: as relações sexuais dos dois casais. Dormindo no chão, entre as camas, sentia as camas balançando e ouvia os beijos, fungados e os áis-áis. Lula não tinha o que fazer. Lá fora estava frio, escuro, deserto e muitas vezes chovendo. Tinha que ficar ali mesmo. No começo, fingia que estava dormindo, mas depois ficou mais safadenho. Colocava um pé numa cama, o outro pé na outra e se masturbava.

Uma ano depois chega Lula na terrinha. Cabelo black power, tatuagem de maconheiro (desculpem o pleonasmo), óculos imitação de coronel do exército, rádio no último volume (maior que ele) no ombro, sotaque paulista, chiclete na boca e cheio de "ocado".

"Aê mano, belê?", disse ele ao irmão que o esperava no ponto do ônibus (a cidade ainda não tinha rodoviária) apresentando a mão espalmada para bater;  

-A mãe catô umars manga pra tu (disse Méri, quer dizer, Valdo);

-A coroa tem umars parada legal (respondeu Lula);

Lula: -Soube que discolasse uma mina irada?;

Valdo: -Foi;

Lula: -Pô rapá, amar é tão gossstossssso. 

Logo Valdo percebeu que o irmão não era mais o mesmo. Algo o havia modificado. 

Após meia hora em casa, ninguém mais o suportava. A mãe correu para anunciar a novidade: "-Lucivadho vothô. Hi! hi! hi! Ái Gizui", dizia ela feliz. Logo a casa se encheu de parentes e vizinhos. Isso era estímulo para ele caprichar ainda mais no sotaque de maconheiro paulista favelado, colocar o equipamento de som (portátil?) nas alturas e contar vantagens. Aos poucos as pessoas foram saindo e em alguns minutos não havia mais ninguém de fora naquela casinha simples, coberta com telhas comuns em duas águas, portas e janelas de tábuas brutas e quase nada para comer.

-Sampa é irada, rapá. Da hora, curto de montão. Tem uma galera discolada, né como os nativo, saca?

Dizia Lula aos presentes.

A mãe lhe trouxe umas mangas. Lula começou a chupar as mangas e perguntou:

-Pô, troço gossstosso, heim mãiê? Qué qui é?

A mãe paciente (só a mãe mesmo) disse-lhe:

-Num é manga meu fíi? Você sempre goxtô.

-Máaaaga? Pô, lembro nã mãiê.

Sem plateia, Lula desligou o som e foi se deitar debaixo de uma árvore. Disse a mãe que ia "refletir". Era um novo homem, viajado e experiente, que conhece novas culturas. Não era mais o mesmo Lula e por isso agia diferente agora. 

O pai, irritado com o visual, chegou para ele e disse:

-Lula rapái, cótha esse cabelo. Óxi, óxi, óxi! Qui cabelo fêi. 

Lula olhou para o pai e respondeu:

-Rrrrrrrroberito Carilos, coroa. 

O pai retrucou:

-Fale direito cumigo seu bóxta.

Lula completou:

-Qualé coroa? Fica cabrêro nã. Vai pintá um castelo manêro pra mim morar. Só quero discolar um trampo manêro.

Nesse momento, aparece na porta um colega não muito bem visto pelas bandas. Era um maconheiro que já havia sido preso por praticar alguns crimes. Lula se anima:

-Aê coroa! Pintô uma figura legal. É o índio...

O pai esgotou a cota de paciência e tacou-lhe o pau de escorar a porta nas costas. Lula corre e sai com o Índio.


Meses depois Lula é assassinado por traficantes. Não pagou a conta e a conta chegou. O irmão que vendia frutas e verduras na feira, abriu um armazém de cereais e hoje está bem de vida. 

Moral da história: 

Pobre é pobre em qualquer lugar do mundo; 

Se os de casa não ajudarem, os da rua é que não vão ajudar mesmo;

Precisamos valorizar mais o que temos e não nos iludirmos com o que é dos outros. A riqueza dos outros é dos outros;

A grama do vizinho sempre parece ser mais verde que a nossa;

Finalizando, foi em busca de melhores condições de vida e só trouxe ideologias destrutivas.

Obs.: A foto é apenas ilustrativa.


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